No dia 27 de Maio, entrei pela primeira vez num canil. Pensava que ia encontrar um cenário chocante, ouvir queixas de má sorte, descontentamento ou ressentimento e latidos infernais, desesperados e insuportáveis, por parte dos seus habitantes, mas para minha admiração não vi nada disso, encontrei latidos esperançosos e olhares bondosos, meigos e carinhosos dos cães que me saudaram à passagem.
Fui conduzida pelo veterinário responsável pelos habitantes do canil, dr. Idílio Cravo, que teve a amabilidade e a gentileza de me mostrar as instalações, digamos que não muito grandes mas com aspecto simpático e, de me dar alguns esclarecimentos.
Animais amigos e ternurentos, à espera que alguém os leve para adopção, que me seduziam com seus olhres amistosos, alguns dormitavam e interrogavam-se sobre a minha presença, outros estavam alegremente excitados e aos pulos, o que eles estavam bem longe de saber, era que o canil os iria adormecer, ou seja, eutanasiá-los.
Fiquei a conhecer algumas regras do canil e as regras da nova legislação. Quem maltrate ou abandone os animais será punido. É obrigatório o uso de um microchip que identifica os animais e os seus donos. A legislação impõe a existência de canis, mas é bem evidente, que não há um final feliz, do tipo "viveram juntos para sempre e foram felizes", porque este tipo de alojamento, faz parte de uma fase transitória da vida de quem lá mora.
O canil não é o local recomendado para deixar o seu cão, quando já não o quiser ou estiver farto dele, visto que não é sítio onde ele possa passar o resto da sua vida e ser feliz.
O espaço que visitei, é finito e limpo, mas não há voluntários dispostos a ajudar se necessário e, não há donativos para ajudar a alimentar estes residentes temporários que ali habitam e são tratados com dedicação, mimados e alimentados como merecem, até ao último dia da sua vida.
É estranho ouvir críticas sobre canis, a quem nunca lá entrou, nem se encontra na disposição de o fazer, mas estou certa de que se o fizessem, os seus olhos iam ficar rasos de lágrimas.
Quem vive diariamente em contacto com esta triste e dura realidade, com estes animais que um dia alguém abandonou e rejeitou, jamais esquecerá aqueles olhares saudosos dos seus "donos" e, quando chega o momento de os deixar partir, não há nada que traduza o sentimento que se vive em directo. E este é um facto do qual poucos falam, muitos critícam e poucos conhecem.
As portas do canil encontram-se abertas a quem o quiser visitar, levar um biscoito ou mimar um destes cães que está triste, e que tem uns olhos repletos de vivências e de histórias para contar, ajudando-o a tornar os seus dias mais suportáveis e, quem sabe se alguém de bom coração, com possibilidades e condições irá adoptar o cão de "ninguém", dar-lhe um doce lar e fazê-lo feliz? Ele saberá agradecer esse gesto, disso tenho a certeza.
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