O tempo passa, as pessoas chegam e as pessoas partem. No final, o que fica são as memórias. E estas não são nunca iguais.
As coisas vão e vêm. O esquecimento tem um poder extraordinário, devastador. Por vezes eu gostaria de esquecer todas as frases pelo prazer das imagens que não me abandonam: as gotas de água nas folhas de hera, os pardais que cantam pela manhã... as rolas...
Nem sempre se está assim. Nem sempre as coisas nos comovem. As coisas, aliás, vão e vêm.
Lembro-me de um banco de madeira, de um jardim, uma bola, um baloiço. Lembro-me ao acaso de todas as pequenas coisas. Vejo as minhas amigas, uma a uma, falo-lhes das pequenas coisas que acabaram, vejo que compreendem, de contrário andariam no meio das labaredas do Mundo, pois estamos sós muitas vezes.
O meu avô morreu num Verão, em Agosto, vi o seu corpo doce e velho abandonado e conformado com o único destino que nos atribuiem como certo.
Deviamos fugir para um lugar onde as coisas nascessem como uma revelação, um princípio de vida, muitas sombras de árvores antigas, onde o sol não magoasse e o céu não tivesse de ser azul nem infinito como nas fotografias.
Deviamos fugir de vez em quando, contar a história da nossa vida, morrer mais tarde, muito mais tarde, mas muito mais tarde mesmo.
Nunca vi tanta coisa a desaparecer, confundo essas coisa com os pedaços de madeira que vêm dar à praia.
O Verão aparece e recolhe-se, as labaredas do tempo caminham ininterruptamente e, deixamos tantas coisas pelo caminho.
Por isso, as coisas vão e vêm. Aparecem e desaparecem.
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