terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Vamos falar de ciganos?



Hoje foi a um simpósio sobre História e cultura cigana que decorreu na Figueira da Foz, no Auditório do Museu Municipal Santos Rocha, sob a orientação do formador Francisco Manuel Azul que afirma ser cigano e não teme as palavras. Referiu com toda a simplicidade que cresceu num bairro social. Desafia a cultura, quando luta pelo seu objectivo: estudar. Disse que escolheu ser diferente, mas especial.

Este simpósio teve por objectivo sensibilizar os profissionais que trabalham em matéria de crianças e jovens, com vista à obtenção de respostas adequadas que facilitem a inclusão de crianças e jovens, bem como das suas famílias em áreas como a educação e o emprego.

Os conteúdos abordados passaram pelo enquadramento das políticas públicas na temática da integração das comunidades ciganas; Conhecimento da cultura cigana; Reflexão sobre algumas representações acerca da cultura cigana, terminando na Partilha prática e pistas de intervenção com vista a uma maior equidade e coesão social.

No final foi emitido um certificado de formação a todos os que estiveram presentes, em 95% da carga horária total da ação de formação.

Este explicou o que era o PAAC e, para quem não sabe o que é, passo a explicar:
- Trata-se de um Programa de Apoio ao Associativismo Cigano e que deverá contribuir de forma direta para a concretização das metas definidas nas prioridades estabelecidas pela Estratégia Nacional pela Integração das Comunidades Ciganas.

O povo de etnia cigana tem a sua origem na Índia e foram obrigados a emigrar para a Europa e África do Norte. Inicialmente gerou-se a crença errónea de que este povo seria proveniente do Egipto.

Os primeiros movimentos migratórios, datam do séc. X e infelizmente já se perdeu muita informação deste povo.

O   ACM (Alto Comissariado para as Migrações ) criou os PLICC ( Planos  Locais para a Integração das Comunidades Ciganas )  com o objetivo de dar voz às pessoas ciganas.

O termo “cigano” é uma expressão criada na Europa do Século XV para designar os povos nómadas. O desconhecimento que as pessoas têm dos ciganos faz com que sejam vistos de um modo estereotipado.  Assim, o termo “cigano” é considerado pejorativo na sociedade.

Fiquei também a saber que durante o Holocausto entre 1939 e 1945 houve uma mortandade, conhecida como um Genocídio – o Porrajmos, palavra, que significa literalmente “devorar”,  usada para mencionar o genocídio dos ciganos à mão do regime de Hitler. Morreram 500 000 ciganos.

Atualmente, na Europa e nos Estados Unidos, a expressão "cigano" é evitada pelos não-ciganos, os quais preferem a expressão geral adotada pelos movimentos de afirmação dessa etnia, adotando a expressão ROMA. Distinguem-se então, três grupos:

- Os  ROM, ou Roma, que falam a lín­gua roma­ni;

- Os SINTI, que falam a língua sintó e são mais encontrados na Alemanha, Itália e França, onde também são chamados Manouch;

 - Os CALON ou KALÉ, que falam a língua caló, tido como "ciganos ibéricos", que vivem principalmente em Portugal e na Espanha, onde são mais conhecidos como Gitanos, mas que no decorrer dos tempos se espalharam também por outros países da Europa e foram deportados ou migraram inclusive para a América do Sul.

Foi referido que os ciganos que habitam no Alentejo, vivem do gado, das feiras e dos automóveis. Os ciganos Galegos, têm como atividades o gado, a leitura da sina, cestaria e feiras. Temos ainda os ciganos “Chabotos”, estes são de facto os mais pobres, vivem da agricultura, trabalham o vime e vendem balões nas feiras.

Foi ainda mencionado que o 16 de Maio é o Dia da Resistência Cigana e em 1971 foi criada uma bandeira. A língua cigana é a Romani, a qual já não se fala. Quanto ao Luto, este é uma tradição ibérica adotada pelo povo cigano e a sua religião é a Muçulmana.






 Na sua composição podem ser observadas duas faixas; uma superior de cor azul e uma inferior de cor verde. No centro se localiza uma roda de carroça estilizada de cor vermelha que significam:
          Faixa Azul – Representa o céu, os valores espirituais, o desenvolvimento, a ligação do consciente com o inconsciente;
          Faixa Verde – Representa a natureza e tudo que ela nos oferece, a energia que alimenta a vida;
          Roda Vermelha – A roda localizada no centro da bandeira simboliza a vida, as estradas percorridas em cima das carroças, a transformação e o movimento. Parece também que a disposição em 16 aros representa os 16 principais clãs ciganos ou ainda,  a Sansara ou Roda Indiana (está ligado ao ciclo de existências que antecedem a libertação da alma).

Hino cigano
   
Em Romaní  (idioma dos ciganos)
Djelém, Djelém (OPRÉ ROMÁ)

Djelém djelém lungóne droméntsa,

Maladilém baxtalé Rroméntsa.
Ah, Rromalé, katár tumén avén,
E tsahréntsa, baxtalé droméntsa.
Ah, Rromalé,
Ah, Chavalé.
Vi man sasí ekh barí famílija,
Mudardá la e Kalí Legíja;
Avén mántsa sa e lumnjátse Rromá
Kaj phutajlé e rromané droméntsa.
Áke vrjáma, ushtí Rromá akaná,
Amén xudása mishtó kaj kerása.
Ah, Rromalé,



Tradução para o Português 
Andei, Andei (LEVANTEM-SE ROM)

Andei, andei por longas estradas,

E encontrei os de sorte.
Ai ciganos, de onde vocês vem
Com suas tendas e crianças famintas?
Oh, velhos ciganos,
Oh, jovens ciganos.
Eu também tive uma grande família,
Mas a Legião Negra a exterminou;

Homens e mulheres foram mortos
E também crianças pequenas
Ai velhos ciganos, ai jovens ciganos
Abra Senhor, as portas escuras
para que eu possa ver onde está minha gente
Voltarei a percorrer os caminhos e
Andarei com os ciganos de sorte

Ai velhos ciganos, ai jovens ciganos

É hora, levantemo-nos,

É chegado o momento de agir.

Venham comigo ciganos do mundo

Ai velhos ciganos, ai jovens ciganos.





“O Dantas é um cigano! O Dantas é meio cigano! O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!”
Almada Negreiros