sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


ANGOLANOS - SÃO TÃO POBRES, QUE SÓ TÊM
DINHEIRO.....

by Edson Vieira Dias Neto


Realidade, triste... SÃO TÃO POBRES, QUE SÓ TÊM
DINHEIRO... by Edson Vieira Dias Neto (adaptado de um texto de
Cristovam Buarque que assenta que nem uma luva a esta Angola,
ainda em plena "Acumulação Capitalista Primitiva" )


"Em nenhum outro país os ricos demonstram mais ostentação
que em Angola. Apesar disso, os Angolanos ricos são pobres.
São pobres porque compram sofisticados automóveis
importados, com todos os exagerados equipamentos da
modernidade, mas ficam horas engarrafados ao lado dos
autocarros e candongueiros do subúrbio. E, às vezes, são
assaltados, sequestrados, abusados e violentados no trânsito.
Presenteiam belos carros a seus filhos e não voltam a dormir
tranquilos enquanto eles não chegam à casa. Pagam fortunas
para construir modernas mansões, desenhadas por arquitectos
de renome, e são obrigados a escondê-las atrás de muralhas,
como se vivessem nos tempos dos castelos medievais,
dependendo de guardas que se revezam em turnos.


Os ricos angolanos, usufruem privadamente tudo o que a riqueza
lhes oferece, mas vivem encalacrados na pobreza social. Na
sexta-feira, saem de noite para jantar em restaurantes tão caros
que os ricos da Europa não conseguiriam frequentar, mas
perdem o apetite diante da pobreza que ali por perto arregala os
olhos pedindo um pouco de pão; ou são obrigados a
restaurantes fechados, cercados e protegidos por policiais


privados. Quando terminam de comer escondidos, são obrigados
a tomar o carro à porta, trazido por um manobrista, sem o prazer
de caminhar pela rua, ir a um cinema ou teatro, depois continuar
até um bar para conversar sobre o que viram. Mesmo assim, não
é raro que o pobre rico seja assaltado antes de terminar o jantar,
ou depois, na estrada a caminho de casa. Felizmente isso nem
sempre acontece, mas certamente, a viagem é um susto durante
todo o caminho. E, às vezes, o sobressalto continua, mesmo
dentro de casa.


Os ricos Angolanos são pobres de tanto medo. Por mais riquezas
que acumulem no presente, são pobres na falta de segurança
para usufruir o património no futuro. E vivem no susto
permanente diante das incertezas em que os filhos crescerão.


Os ricos angolanos continuam pobres de tanto gastar dinheiro
apenas para corrigir os desacertos criados pela desigualdade
que suas riquezas provocam: em insegurança e ineficiência. No
lugar de usufruir tudo aquilo com que gastam, uma parte
considerável do dinheiro nada adquire, serve apenas para evitar
perdas.


Por causa da pobreza ao redor, os angolanos ricos vivem um
paradoxo: para ficarem mais ricos têm de perder dinheiro,
gastando cada vez mais apenas para se proteger da realidade
hostil e ineficiente.


Quando viajam ao exterior, os ricos sabem que no hotel onde se
hospedarão serão vistos como assassinos de crianças na lunda,


destruidores da Floresta do maiombe em Cabinda, usurpadores
da maior concentração de renda do planeta, portadores de
malária, de paludismo e de filária.. São ricos empobrecidos pela
vergonha que sentem ao serem vistos pelos olhos estrangeiros.


Na verdade, a maior pobreza dos ricos angolanos, está na
incapacidade de verem a riqueza que há nos pobres. A pobreza
de visão dos ricos impediu também de verem a riqueza que há na
cabeça de um povo educado. Ao longo de toda a nossa história,
os nossos ricos abandonaram a educação do povo, desviaram os
recursos para criar a riqueza que seria só deles, e ficaram
pobres: contratam trabalhadores com baixa produtividade,
investem em modernos equipamentos e não encontram quem os
saiba manejar, vivem rodeados de compatriotas que não sabem
ler o mundo ao redor, não sabem mudar o mundo, não sabem
construir um novo país que beneficie a todos.


Muito mais ricos seriam os ricos se vivessem em uma sociedade
onde todos fossem educados. Para poderem usar os seus caros
automóveis, os ricos construíram viadutos com dinheiro de
colocar água e esgoto nas cidades, achando que, ao comprar
água mineral, se protegiam das doenças dos pobres.
Esqueceram-se de que precisam desses pobres e não podem
contar com eles todos os dias e com toda saúde, porque eles (os
pobres) vivem sem água e sem esgoto. Montam modernos
hospitais, mas tem dificuldades em evitar infecções porque os
pobres trazem de casa os germes que os contaminam. Com a
pobreza de achar que poderiam ficar ricos sozinhos, construíram
um país doente e vivem no meio da doença.


 Há um grave quadro de pobreza entre os ricos angolanos. E esta
pobreza é tão grave que a maior parte deles não percebe. Por
isso a pobreza de espírito tem sido o maior inspirador das
decisões governamentais das pobres ricas? elites? angolanas.
Se percebessem a riqueza potencial que há nos braços e nos
cérebros dos pobres, os ricos angolanos, poderiam reorientar o
modelo de desenvolvimento em direcção aos interesses de
nossas massas populares. Liberariam a terra para os
trabalhadores rurais, realizariam um programa de construção de
casas e implantação de redes de água e esgoto, contratariam
centenas de milhares de professores e colocariam o povo para
produzir para o próprio povo. Esta seria uma decisão que
enriqueceria ANGOLA INTEIRA - os pobres que sairiam da
pobreza e os ricos que sairiam da vergonha, da insegurança e da
insensatez.
Mas isso é esperar demais. Os ricos são tão pobres que não
percebem a triste pobreza em que usufruem suas malditas
riquezas".


Adaptado de um texto de Cristóvam Buarque -- KALIFADO DE
PALMELA



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