Outono. O Sol,qual brigue em chamas, morre
Nos longes de água...Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poesia escorre
E os bardos( carneiros),a cismar, molham a pena!
Ao longe, os rios de águas prateadas,
Por entre os verdes canaviais, esguios,
São como estrelas líquidas e, as estradas,
Ao luar, parecem verdadeiros rios!
Os choupos nus, tremendo arrepiadinhos,
O xale pedem a quem vai passando...
E nos seus leitos nupciais, os ninhos,
As lavandiscas noivas piando, piando!
O orvalho cai do céu, como um unguento.
Abrem as bocas, aparando-as, os goivos;
E a laranjeira, aos repelões do vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.
E o orvalho cai... E, à falta de água, rega
O vale sem fruto, a terra árida e nua!
E o padre - Oceano, lá de longe, prega
O seu sermão de lágrimas, à Lua!
A Lua! Ela não tarda aí, espera!
O mágico poder que ela possui!
Sobre as sementes, sobre o Oceano impera,
Sobre as mulheres grávidas influi...
Ai os meus nervos, quando a Lua é cheia!
Da arte novas concepções descubro,
Tudo me aflijo,fazem lá ideia!
Ai a ascensão da Lua, pelo Outubro!
Tardes de Outubro! ó tardes de novena!
Outono! Mês de Maio, na lareira!
Tardes...
Lá vem a Lua, gratinae plena,
Do convento dos céus, a eterna freira!
António Nobre
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