É assim...
Não sei se é só comigo, mas quando vejo nas revistas aquelas fotografias de cozinhas perfeitas, ou de salas ou de quartos perfeitos, sem nada fora do sítio e tanto sítio por todo o lado, tudo arrumadíssimo, impecabilíssimo, em que casais sorridentes e penteadíssimos mostram os seus rebentos comportadíssimos – igualmente sem um único cabelo desalinhado ou uma camisa desfraldada, ainda que muito ligeiramente – num ambiente celestial, penso ter aterrado num outro planeta qualquer. Sim, noutro mundo.
É que, no mundo que eu conheço, fotografias destas, a serem possíveis, demorariam séculos a ser tiradas. Aliás, quando as crianças que eu conheço conseguissem ficar quietas para a fotografia, sem um único cabelito fora do sítio, já seriam adultas. Ser adulto é a única razão que leva alguém a querer ficar bem na fotografia.
Nenhuma mãe da vida real consegue aquele ar de Bela Adormecida acabada de acordar do seu sono de beleza de 100 anos, sim, porque as mães da vida real – e os pais, em abono da verdade – não pregam olho e passam a noite a saltar de filho em filho até terem de saltar para o emprego. As mães da vida real rezam para que os filhos não acordem antes de elas se vestirem e não compreendem como é que é possível mandar sondas para o espaço se não há uma alminha capaz de inventar um secador de cabelo silencioso. Depois, claro, os pequenos acordam e elas veem-se sentadas na casa de banho com um miúdo em cada perna e lá se vai a mise.
Nenhum sofá e nenhuma cama da vida real conseguem ter as almofadas alinhadas como se fossem amestradas, é impossível. Na vida real, as almofadas estão amarfanhadas e já entraram em guerras – de almofadas, claro – pela noite fora. Já sorveram muitas lágrimas e já ouviram muitos desabafos. A vida real não é um museu. Não é uma questão de decoração, mas de coração.
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