A
ideologia do capitalismo revela um misto de ilusão acerca dos seus méritos e
d...e
consciência dos seus pecados. Nunca ideólogos e propagandistas definiram de
maneira tão falsa e idealizada as características, as realidades e as
perspectivas de desenvolvimento da sociedade como fazem os novos teóricos e
propagandistas do capitalismo.
O capitalismo ter-se-ia superado a si
próprio. Teria deixado de ser capitalismo, para ser agora “economia de mercado”.
Já não haveria capitalistas mas “empresários”. Seria um “capitalismo
civilizado”, sem classes antagónicas, um capitalismo sem proletários, sem luta
de classes, nem natureza de classe de governos e de políticas, seria uma
sociedade nova definitiva e final constituída por cidadãos conscientes, cordatos
e mutuamente solidários, aceitando, assinando e cumprindo “pactos de regime”,
“pactos sociais”, “pactos” e mais “pactos” pelos quais os cidadãos trabalhadores
(agora dizemos nós) aceitariam renunciar a direitos fundamentais e vitais. Ou
seja, ser explorados pelos cidadãos capitalistas e os cidadãos capitalistas
continuarem a explorar os trabalhadores e a justificarem-se perante a opinião
pública através dos seus fantasiosos teorizadores.
A fantasia é tanta, a
sociedade assim falsamente descrita é tão idealizada e irrealista no seu
presente e na perspectiva do seu futuro, que se pode dizer que o capitalismo,
desacreditado e abalado por uma crise profunda, inventa a sua própria utopia.
Não como projecto de mudança, naturalmente, mas como mudança de linguagem
pretendendo ocultar a realidade.
E a realidade é que o capitalismo
mantém a sua natureza exploradora, opressora e agressiva. Contra ele, a luta dos
trabalhadores e dos povos continua e recrudesce. Os trabalhadores não podem
dispensar um partido completamente independente dos interesses e da influência
ideológica da burguesia e corajoso, dedicado e convicto. O ideal comunista, esse
não é uma utopia. Continua a ser válido e com futuro. Onde desapareçam partidos
comunistas, os trabalhadores e os povos criá-los-ão de novo, com esse ou outro
nome, com inevitáveis diferenças, mas com essas características essenciais.
Trata-se de uma necessidade e inevitabilidade da evolução social. Não é ao
capitalismo mas ao comunismo que o futuro pertence».
Alvaro Cunhal
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