segunda-feira, 18 de julho de 2011

História

D. Afonso Henriques batia na mãe?

Esse é um dos grandes mitos da nossa História que a VISÃO desvenda na edição desta semana. 


Arquivado o "Caso Viriato", e avançando uns bons 1200 anos na máquina do tempo, aparece-nos como primeiro português D. Afonso Henriques. Para trás, no Portugal de hoje e na Península Ibérica em geral, tinham ficado os seis séculos de domínio romano, as invasões dos povos germânicos (dos Bárbaros, como se dizia), o reino dos Visigodos que abrangeu quase todo o moderno Portugal, o dos Suevos que englobou o Minho e o Douro e a invasão muçulmana do ano 711, que originou muitos séculos de permanência dos "mouros" por cá. A designação "mouros" não é correta, pois para além de naturais da Mauritânia muitos outros seguidores de Maomé, incluindo árabes, se estabeleceram na Península. Mas foi a que ficou.
A memória popular, o mais longe que vai é ao tempo destes "mouros", considerado o mais recuado que se pode imaginar; daí a Casa Mourisca do romance de Júlio Dinis, que de "moura" tinha apenas a característica de ser antiga. Logo no século VIII, estes mouros começaram a ser combatidos pelos nobres cristãos do Norte, muitos deles de origem germânica e mais ligados aos costumes europeus do que aos orientais ou norte-africanos.
Nasceram assim novos reinos à custa de território conquistado aos mouros. Um desses reinos foi o de Leão, depois unido ao de Castela. Portugal era um condado pertencente a esse reino, derivando o nome de Portus e Cale (Porto e Gaia), as importantes povoações da foz do Douro que justificavam a sua autonomia. Para o governar, o rei de Leão nomeou o conde Henrique, ou Henri, um nobre francês da Borgonha que viera para a Península a fim de combater os "infiéis", a quem ofereceu a mão da sua filha bastarda, Teresa, ou Taraja.
Da união nasceu Afonso, filho de Henrique (Henriques, portanto), que após a morte do pai entraria em rutura com a mãe por defender um ponto de vista diferente do dela quanto ao futuro do condado: enquanto Teresa era adepta da união com a Galiza, o jovem Afonso tornou-se o chefe-de-fila dos barões de Entre Douro e Minho, que sonhavam com uma maior autonomia.
Era inevitável um choque entre as duas fações, e este teve lugar no dia 24 de junho de 1128 no campo de S. Mamede, em Guimarães; há quem pense que não se tratou de uma batalha, mas de um mero torneio, o que não impede que o confronto entre mãe e filho tenha existido e daí o mito de que este "batia" naquela.
Afonso Henriques passou depois a intitular-se rei e alargou os seus domínios à custa de territórios tomados aos mouros do Sul e aos leoneses do Leste. Este novo estado, independente de Leão e Castela, é o Portugal em que vivemos. Ele foi o seu inventor.
Mas nunca será de mais lembrar que Portugal, como entidade física, já existia antes do seu tempo. Quer dizer: existiam muitas das atuais cidades, os campos, as vias de comunicação, as pontes construídas pelos Romanos, uma população formada pelo cruzamento de diversas etnias e a língua que hoje continuamos a falar (embora talvez só com grande dificuldade conseguíssemos conversar com um "português" do século VIII ou IX.).

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