As mulheres são umas cabras!
Se quisermos recriar um ambiente profissional pautado pelo horror e assédio moral basta colocar um grupo de mulheres a trabalhar juntas. Elas são más umas para as outras. São competitivas, passam rasteiras, não partilham conhecimento, não sabem ceder, não sabem ajudar, lutam entre si pelo reconhecimento profissional junto dos superiores, pisam para tentar chegar mais longe…
Este tipo de conjecturas são ouvidas vezes sem conta, sempre que o assunto é discutir as diferenças entre homens e mulheres no mundo do trabalho. E não raro são as próprias mulheres a assim argumentar. Se ouvir um homem dizer tamanha barbaridade me irrita, ouvi-lo da boca de uma mulher desconcerta-me. Fico mal-disposta. Chego a sentir náuseas.
Regra geral, este tipo de ideias não se baseiam na experiência pessoal mas naquele conhecimento mais difuso a que chamamos senso comum. Trata-se de um conhecimento que é de todos e perdura no tempo, mesmo que haja provas em sentido contrário. Nele abundam preconceitos e estereótipos que moldam a forma como encaramos o mundo e influenciam o que pensamos sobre o que nos rodeia. É difícil fugir disto…
Depois de trabalhar mais de uma década com sete mulheres que entretanto se tornaram grandes amigas suas, Maria continua a dizer que trabalhar com mulheres é um terror. As mulheres são intriguistas e chateiam-se por tudo e por nada, defende ela. Por acaso no seu grupo não é isso que se passa, mas trata-se com certeza de uma excepção, acredita Maria. Tal como Maria muitas outras mulheres e homens pensam desta forma.
Por oposição a este inferno que é um grupo de mulheres a trabalhar juntas, uma empresa só de homens deve assemelhar-se a um paraíso onde reina a harmonia, o companheirismo e a ternura. Imaginemos! Fechem os olhos e visualizem uma empresa de reciclagem (sintam-se livres de pensar noutro ramo de actividade) onde trabalham 26 homens. O que vêem? Um grupo de compinchas onde não há lugar para disputas e intrigas? Um dia-a-dia de trabalho pautado pela entre-ajuda e palmadinhas nas costas? Uma mesa de almoço onde todos comungam da mesma refeição? Uma rede de relacionamentos que extravasa o local de trabalho e se expande para os piqueniques no parque da cidade?
Se é uma empresa deste género que estão a imaginar tenho de dar-vos os parabéns pela criatividade com que o fizeram. Infelizmente os homens não são todos uns porreiraços e lugares destes só existem na nossa cabeça.
As características que fazem de nós melhores ou piores pessoas, melhores ou piores colegas de trabalho não dependem das nossas características anatómicas. Um par de mamas não transforma ninguém na cabra lá do escritório. Um par de outra coisa qualquer não faz de ninguém o coleguinha do ano.
Estamos muito focados a tentar identificar diferenças entre homens e mulheres onde elas não existem. Na maior parte das coisas somos todos muito parecidos.
Por Elisabete Rodrigues
Socióloga
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