terça-feira, 20 de julho de 2010

Quer um filho?

Vá à fábrica !
Como ontem não tinha grande sono, liguei a TV já um pouco fora de horas e deparei-me com um documentário sobre " bebés made in Índia " , ou seja, " barrigas de aluguer na Índia".

Pude então verificar como a Índia se tornou num verdadeiro mercado de bebés, dado ao seu baixo custo e fácil aquisição de documentos para o registo dos mesmos.

Com 20 mil euros qualquer ocidental pode ir à fábrica e mandar produzir o seu bebé, só tem que se deslocar à Índia.Digamos que este custo é cinco vezes inferior do que por exemplo nos EUA. Deste modo este país é solicitado pelos americanos, europeus, chineses e até mesmo indianos.

Através da Internet os futuros pais contactam a fábrica, digo, clínica que por sua vez trata de seleccionar a mãe que irá gerar o bebé. É de referir que o óvulo pode ser doado ou da própria " compradora". A fecundação é feita in vitro e implantada no útero "alugado" .

Após esta primeira parte, cada um segue a sua vida....


Entretanto o útero "alugado" vai para um albergue de úteros "alugados" de precárias condições e longe da comunidade, para que esta não saiba que aquela mulher está a gerar um bebé que nunca irá ser seu e não seja reputada de prostituta.

Durante a estadia no albergue, cada mulher recebe a quantia de 20 dólares e tem que partilhar o seu quarto.

Se o bebé sobreviver e tudo correr bem, a mulher recebe 4 ou 5 mil dólares mas, se a coisa der para o torto e a criança morrer, não há dinheiro para ninguém.

O papel da mãe compradora  é de determinar em que dia ela quer que a criança nasça para se proceder à cesariana.


Pois está-se bem a ver que quem lucra e bem com a miséria alheia é a dona do negócio, que lá vai dizendo que o papel da mulher na sociedade é ter filhos, é ajudar as outras mulheres e ainda que o dinheiro irá mudar as suas vidas.


Quanto ao útero "alugado" resta-lhe a dor da perda de seu filho, a vergonha de se ter vendido por dinheiro e caso tenha frigorífico de o ver cheio durante um ano e ainda uma recuperação dolorosa de uma cesariana.

À feliz compradora, resta-lhe uma linda criança de olhos azuis que uma pobre indiana gerou.




Durante este documentário percebi a diferença entre as mulheres que geravam bebés europeus e as que geravam bebés indianos. É triste dizer que algumas destas mulheres viviam disto mesmo, uma delas até já tinha comprado um táxi para o seu marido poder trabalhar e garantir o futuro da família.


Por aqui se conclui que a exploração da pobreza chega aos extremos. Será que o dinheiro compra mesmo tudo? Até a maternidade? De facto qualquer negócio é um jogo para quem não tem nada. O estado de miséria permite tudo.

E é desta forma que nascem belas Cinderelas e encantadores príncipes de olhos azuis, nas mãos da madrasta má.

A forma como tudo isto é tratado cria  indignação a qualquer pessoa com um mínimo de sentimentos.

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