Carta a mim
Portei-me bem todo o ano. Aliás, portei-me bem toda a vida. Cumpro as minhas obrigações com a regularidade e o espírito da época. Sou eficiente. Trato bem as renas e paguei sempre o subsídio de Natal aos duendes. Nunca falhei uma chaminé e nunca errei um pacote. Acho. Trabalho numa noite aquilo que muitos não trabalham num ano. Não deixo uma carta por ler, embora às vezes me apeteça. Há cartas que me dão água pelas barbas. Ai, Jesus, onde é que eu estava na cabeça quando aceitei este emprego? Ainda por cima, não consigo subir, estou sempre no mesmo escalão, embora haja quem ache que eu estou no céu. Eu sei que por estes lados é difícil descongelar, afinal isto aqui é frio, mas já cansa. Enfim. Pode ser que, para o ano, o sol faça o que lhe compete e nasça para todos.
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