terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

VERDADES QUE SÃO VERDADE
Estava morto. A vida tinha sido madrasta e nada parecia correr bem. Tudo o que desejava não tinha, tudo o que tinha eu julgava não ter desejado. Ele afirmou em tribunal que foi sem querer, que era inocente. Mas eu estava morto. Não foi uma bala, nem tão pouco uma paulada, foi sim um gesto tão rígido que peito algum poderia suportar. Eu tinha dado tudo por ele, por aquele amigo que julgamos ser idóneo, perfeito, ideal, o amigo que vai connosco à guerra, que tem os mesmos ideais, que luta com armas da verdade e da humanidade. Mas não, era apenas um clone fabricado na ásia, tão fraco que nada tinha de autêncito, um fantoche social que se julgava importante, que aproveitou as luzes da ribalta tal e qual boneca de máquina de feira. Aprendi que era a vida, que amigos não são ilusões, são verdade, mas que as ilusões existem e são tão reais quanto os amigos de verdade, e esses não dizem ou escrevem que nós somos bons, esses fazem sentir-nos bons, elevam-nos, protegem-nos e nunca nos abandonam. Paguei um preço alto ao sair da minha aldeia com os mesmos valores de sempre, mas recebi um valor ainda maior no regresso, pois sei que em cada pedra da minha aldeia existe mais verdade do que em cem cidades de qualquer parte do mundo. Ouvi um sociólogo, daqueles que falam na tv e até são importantes, dizer, no outro dia, que na aldeia existem fofoquices e que nas cidades é que é bom. Sim, é verdade, concordo em absoluto. Nas aldeias quando erramos as pessoas sabem e fazem questão de o comunicar, na aldeia quando roubamos somos excluídos, na aldeia quando traímos jamais seremos confiáveis, na aldeia quando a casa arde na igreja toca o sino e todos correm em socorro. Na cidade ninguém fala de ninguém, independentemente do tamanho do roubo, do desfalque, da traição ou do incêndio. Na aldeia o importante é saber que estão todos bem, na cidade o que importa é estar bem. O pior? O pior é que um dia poderemos estar mal e, na aldeia, temos a certeza que não estaremos sós. 


Foto: Blueiceangel 
Texto: Paulo Costa
VERDADES QUE SÃO VERDADE
Estava morto. A vida tinha sido madrasta e nada parecia correr bem. Tudo o que desejava
 não tinha, tudo o que tinha eu julgava não ter ...
desejado. Ele afirmou em tribunal que foi sem querer, que era inocente. Mas eu estava morto.
Não foi uma bala, nem tão pouco uma paulada, foi sim um gesto tão rígido que peito algum
 poderia suportar. Eu tinha dado tudo por ele, por aquele amigo que julgamos ser idóneo, perfeito, ideal, o amigo que vai connosco à guerra, que tem os mesmos ideais, que luta com armas da
verdade e da humanidade. Mas não, era apenas um clone fabricado na ásia, tão fraco que nada
tinha de autêncito, um fantoche social que se julgava importante, que aproveitou as luzes da
ribalta tal e qual boneca de máquina de feira. Aprendi que era a vida, que amigos não são ilusões,
 são verdade, mas que as ilusões existem e são tão reais quanto os amigos de verdade, e esses não dizem ou escrevem que nós somos bons, esses fazem sentir-nos bons, elevam-nos, protegem-nos
 e nunca nos abandonam. Paguei um preço alto ao sair da minha aldeia com os mesmos valores de sempre, mas recebi um valor ainda maior no regresso, pois sei que em cada pedra da minha aldeia existe mais verdade do que em cem cidades de qualquer parte do mundo. Ouvi um sociólogo, daqueles que falam na tv e até são importantes, dizer, no outro dia, que na aldeia existem fofoquices
 e que nas cidades é que é bom. Sim, é verdade, concordo em absoluto. Nas aldeias quando erramos as pessoas sabem e fazem questão de o comunicar, na aldeia quando roubamos somos excluídos, na aldeia quando traímos jamais seremos confiáveis, na aldeia quando a casa arde na igreja toca o sino
 e todos correm em socorro. Na cidade ninguém fala de ninguém, independentemente do tamanho do roubo, do desfalque, da traição ou do incêndio. Na aldeia o importante é saber que estão todos bem, na cidade o que importa é estar bem. O pior? O pior é que um dia poderemos estar mal e, na aldeia, temos a certeza que não estaremos sós.

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