Ao instalar-se um silêncio quase absoluto em minha casa, devido ao facto da minha única companhia ser a televisão e esta ficar sem som e apresentar apenas imagem, resolvi deitar-me, mas o sono não chegou e eu decidi levantar-me e escrever sobre os meus silêncios que jamais prejudicarão alguém e serão sempre repletos de diálogo.
É quando a noite chega e os outros se deixam vencer pelo sono, que os meus silêncios se tornam mais ricos e mais íntimos. É também nessa altura que eu converso com todos aqueles que de um modo ou outro me assinalaram e de quem sinto uma réstia de tristeza ou lembrança.
No meu sossego consigo olhar com admiração o sorriso nos lábios dos outros e, desta forma transformar os meus silêncios numa coisa mais aprazível e aos quais me agarro após um dia desgastante de trabalho, aulas, reuniões, convivências por vezes difíceis de um sem número de questões e dúvidas para esclarecer.
Os meus silêncios jamais serão perigosos, porque saberei sempre divorciá-los das palavras. A minha solidão, essa sim, é que um dia se poderá converter em perigo, tão eminente, que terei de saber dominar. É uma onda de desespero que me invade com tamanha violência, que quase me corta a respiração só de pensar nisso. Apesar de todo o raciocínio e planeamento, não obstante as minhas orações, tudo afinal se restringe à falta de inteligência, de delicadeza de sentimentos do factor sorte e de estupidez.
Infelizmente o tempo não nos favorece a permanecer no caminho certo, ele continua sempre em frente, mas por vezes encontra-se coberto de pedras e pedregulhos, que se foram amontoando ao longo dos anos e da vida.
Mas nós, seres humanos e como bichinhos de hábitos que somos, acostumamo-nos e adaptamo-nos a tudo, desde que nos concedam tempo para isso.
E a casa continua silenciosa à exclusão dos sons que se agitam desesperadamente nas sombras. É uma experiência estranha, olhar para trás e recordar o passado, afinal quem não tem uma vida repleta de recordações? Umas melhores, outras piores, mas fazem parte da vida de cada um de nós. E pôr tudo isto em palavras? Não sou poetisa e todavia seria preciso um poema para descrever tudo o que sinto e penso ....