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segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Fernando Pessoa...
Resumindo...num beco sem saída...
Fernando Pessoa é o maior intelectual português, o maior pensador português da primeira metade do século XX.
Morre em 1935, viveu a transição da monarquia para a república, a participação de Portugal na Grande Guerra, a vergonha nacional do ultimato britânico e todo o impacto que isso tem na mentalidade portuguesa.
Não há figura no nosso panorama intelectual comparável a Fernando Pessoa. Portugal não se pode pensar sem olhar o Atlântico, Portugal é o Atlântico – aliás, a “Mensagem” tem uma quadra muito engraçada que fala sobre Portugal como o perfil de um rosto que olha para o Ocidente. Se nós virmos o recorte da costa portuguesa, é claramente o perfil de uma pessoa, vê-se a testa, o nariz, a boca e o queixo, a olhar para o Atlântico.
Ele vê Portugal como o centro do Atlântico. A sua paixão pelo grande Walt Whitman, o poeta americano, vem dessa identidade do Atlântico como centro da civilização ocidental e pólo civilizador e evangelizador de todo o resto do mundo. A mensagem dos dois é muito idêntica, tem muitas similitudes. É do Ocidente – e de Portugal, no fundo – que vem a expansão da epopeia dos Descobrimentos e é Portugal que descobre o Atlântico e as várias dimensões do Atlântico e o dá ao mundo.
Ele acha que Portugal não se pode pensar, nem repensar nem pode construir o seu futuro sem olhar para o Atlântico. Acho que tinha completa razão. Foi uma coisa que se perdeu, Portugal deixou de ser marítimo, ancoraram-nos à Europa, à terra. Parece que esse regresso à Europa, para a qual vivemos de costas viradas uma data de anos, não tem corrido muito bem. Perdeu-se aquele olhar amplo, ficámos metidos numa rua sem saída, a Europa tornou-se para nós um beco...

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Aprender de Cor quem Amamos



Comportamo-nos como se as pessoas de quem gostamos fossem durar para sempre. Em vida não fazemos nunca o esforço consciente de olhar para elas como quem se prepara para lembrá-las. Quando elas desaparecem, não temos delas a memória que nos chegue. Para as lembrar, que é como quem diz, prolongá-las. A memória é o sopro com que os mortos vivem através de nós. Devemos cuidar dela como da vida.
Devemos tentar aprender de cor quem amamos. Tentar fixar. Armazená-las para o dia em que nos fizerem falta. São pobres as maneiras que temos para o fazer, é tão fraca a memória, que todo o esforço é pouco. Guardá-las é tão difícil. Eu tenho um pequeno truque. Quando estou com quem amo, quando tenho a sorte de estar à frente de quem adivinho a saudade de nunca mais a ver, faço de conta que ela morreu, mas voltou mais um único dia, para me dar uma última oportunidade de a rever, olhar de cima a baixo, fazer as perguntas que faltou fazer, reparar em tudo o que não vi; uma última oportunidade de a resguardar e de a reter. Funciona.

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Nunca tivemos tempo, não é, uns para os outros, e agora é tarde, estupidamente tarde, ficamos assim a olhar-nos, ausentes, estrangeiros, cheios de mãos supérfluas sem bolsos para ancorar, à procura, na cabeça vazia, das palavras de ternura que não soubemos aprender, dos gestos de amor de que nos envergonhamos, da intimidade que nos apavora 
(AA)

 Um dia com as maçãs em Armamar  Armamar encontra-se em pleno Douro vinhateiro, é uma vila que geograficamente divide o território em duas p...